Sobre as faltas

22:28

Pouco a pouco (leia-se POUCO a POUCO mesmo), começo a compreender minhas dores. Humanamente falando, sou dotada de dores. Às vezes é surpreendente até pra mim, lembrar que sou uma pessoa que sofre. Mantive meu coração tão afastado de tudo isso que quase acreditei que não poderia sentir mais nada que me provocasse dor. Mas há algum tempo, comecei a entender as causas que me levaram a esconder até de mim mesma, que eu sou sim bastante frágil, sensível, e que choro. Sim, eu choro. Eu posso chorar. Racionalizei a dor e nem chorar conseguia mais. Hoje, já consigo chorar das minhas dores. Mas o principal que tem me incomodado é tentar perceber de onde tem vindo tantas dores. Elas são novas ou estavam adormecidas, ou melhor, anestesiadas?! 
Dias e mais dias sentindo essas dores que socam o meu estômago, chacoalham e apertam o meu cansado coração, e não compreendendo nada. Apenas senti. E me permiti sentir, afinal há tanto tempo que eu não me permitia sentir algo assim. Eu precisava me esconder por detrás de uma personalidade forte, sólida e disposta a ser inteira para o outro. Mas de que adianta tentar ser para o outro algo que nem para mim consigo ser? Descobri que não adianta de nada e que mais cedo ou mais tarde tudo o que foi escondido virá à tona.
Talvez nem doesse tanto se viesse sendo vivida, cada pequena dor desses dias amargos que a gente tem. Mas não, guardei todos, engoli todas as lágrimas e por isso comecei a me sentir tão sufocada. Chega uma hora na vida em que não dá mais. Simplesmente, não dá mais. E vem a explosão, que não é nada moderada. 
Então, vocês já podem imaginar que é quase insuportável, não é? Mas eu suporto, porque sei que a dor também é humana, é sinal de que estou viva. E que ótimo que estou me sentindo viva a ponto de voltar a sentir minhas dores. Pois se as sinto é porque começo a perceber as faltas e os incômodos que me impedem de crescer psiquicamente. Começo a identificar de onde vem tais dores. E só assim posso, primeiro sentir, depois pensar, para mais tarde discutir e elaborar novas formas de viver com tudo isso que faz parte do que sou.
Não é uma tarefa fácil, de maneira alguma. Mas é tudo o que eu sou. Eu e minhas faltas, minhas dores, minhas mágoas, minha amargura. E vivendo isso, posso intercalar esses aspectos, com a minha alegria, minha disposição de viver, minha criatividade, minha vida de uma forma mais completa. Quero preencher meus vazios com sede de vida. Sem eliminações, quero viver daquilo que me preenche e permite que eu cresça, em busca da minha individuação.


Magda Albuquerque

You Might Also Like

0 comentários

Seguidores