02 de maio de 2012

Era inverno.

Da janela, via a vida passar amargamente.

Chuva. Muita chuva. E o inverno que não tinha mais fim.

- 14:15

E eu ainda não conseguia tirar o pijama, muito menos sair da janela, vendo o tempo e a vida passarem. O céu desabando, o chão se escondendo em tantas águas, pessoas correndo, roupas molhadas, sapatos encharcados, crianças correndo, meninas sorrindo... E aquele bendito casal que não saía daquele café. O meu lugar, que um dia foi meu e dele, que me fez ser primavera. Agora, sou só inverno e com a chuva, me transformo: eu sou chuva, inverno e frio.

- 16:45

Aquele casal ainda transborda paixão pelos olhos, entre um café, um muffin e outras delícias. A chuva que cai lá fora parece não os preocupar, e tampouco atingir. Meu olhar cansa, os olhos querem descanso mas eu insisto em observar: E e suas mãos acariciando o rosto dela, o toque suave entre mãos, as gentilezas que nem precisam de palavras, mas logo se sente daqui, de longe, de onde eu, desesperadamente, chovo.

- 18:00 

Pontualmente, pelo décimo segundo dia, eles levantam, seguram nas mãos um do outro, se olham e saem com sorriso que não se importa se é sol ou chuva, apenas existe um para o outro. Enquanto isso, choro em desespero, sem controle, pela centésima vez no pouco tempo em que tudo mudou: de sua, passei a ser espectadora de uma história de um par, mas que não faço parte.

Lentamente me aninho em mim mesma, naquela janela que tem sido mais familiar que qualquer pessoa que faça parte da minha vida. Ver sua felicidade tem sido minha tortura necessária, dia a dia, e mergulho nessa dor que me desafia, me provoca. Sou orgulhosa, e cismei que deveria assistir, deixar doer, até que um dia o inverno passe e os cafés não sejam mais rotina, que outros caminhos sejam seguidos. 

- Perdi a noção das horas

Por enquanto, deixo sua felicidade ser tatuada em meus olhos, para que me rasgue o peito, me dilacere o coração. No fundo eu apenas queria ser primavera ao teu lado, e florir, entre aqui e ali, apenas sorrir. Como não posso assim ser, deixo chover. Quem sabe um dia a chuva há de passar!?