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Sentou-se à mesa, bem ali naquele canto de sempre, onde já havia sentado tantas e tantas vezes, em silêncio. Retirou uns livros da bolsa, pediu um chocolate quente e mais uma vez em silêncio se distraiu entre goles e páginas, em profundo silêncio.

Vez ou outra sorria, com aquele sorriso sutil, com o canto da boca. Saboreava as palavras e o chocolate, em profunda contemplação.

E eu, só admirava, observava. Me permitia também estar em silêncio e observar que ele não dizia uma só palavra, apenas lia, dava mais um gole no chocolate, sorria e respirava como quem tenta digerir todas aquelas palavras.

Invejava aquela leveza, que para mim era apenas aquele momento, aquele instante, mas para ele parecia ser parte de sua essência, do seu modo de ser no mundo.

Dei mais um gole no meu café, amargo, entendi que na próxima vez vou experimentar um chocolate quente, e mudar um pouco o sabor que tenho experimentado na vida. Quem sabe assim também possa sentir e viver esse silêncio leve e não só contemple o outro, mas possa também sentir em mim, e sorrir sutil e verdadeiramente.

Magda Albuquerque