Hoje se encontram cada um de um lado do mundo, separados por um continente. Clara sofreu com a partida, mas precisava partir. Marcelo não sentiu sua perda, não na época do acontecido; mas hoje sente o impacto do descaso ao qual se encaminhou sua trajetória. Clara era sua fonte vital, mas ele não sabia, até então.

Ela procurou saber como ele estava, por muito tempo, até que pode seguir sua vida, deixando o passado ficar em seu lugar. Ele se surpreendia quando alguém falava sobre como ela estava amando o novo lugar, as novas companhias; sentia até ciúmes. Agia contrariando seus próprios sentimentos quando dizia para todos: eu nem lembro mais dela, e estou aqui bem feliz, muito mais feliz sem ela. Mentia descaradamente, e o pior: ninguém acreditava nisso, muito menos ele.

Clara é uma mulher forte, bem sucedida, destinada a colher bons frutos em sua vida. Encontrou um alguém para também chamar de seu, naquele lugar distante onde faz sua morada. Aprendeu com o tempo, que há momento para tudo durante a jornada da vida, cabendo a cada pessoa esperar. Deixou de lembrar do antigo amor com saudades; agora se trata de uma lembrança guardada.

Marcelo, depois de muito tempo se deu conta do quanto sente falta de Clara e resolveu lhe enviar um e-mail, despejando desesperadamente os seus sentimentos e o desejo de tê-la novamente. Desde o rompimento, nunca trocaram sequer uma mensagem. Clara recebeu o e-mail incrédula da leitura que fazia; era impossível que ele fizesse isso naquele momento. Deu-se conta de que para ele, não restava muita coisa, para que conseguisse finalmente lhe escrever aquele e-mail.

De forma direta e perspicaz, após a leitura, Clara respondeu ao antigo amor: 

- Querido Marcelo, vejo que o tempo foi cruel com você, da mesma forma com que você foi insensível para com ele. Entendo todo o seu apelo e acolho com carinho, mas preciso lhe dizer que não tenho culpa alguma quanto a tudo o que você perdeu com a minha partida. Compreendo toda a avalanche a qual você menciona, e lhe digo que sinto muito, mas depois de um tempo consegui deixá-lo partir de dentro de mim. Fomos um lindo casal, tivemos uma linda história, mas você me deixou partir, quando eu precisei partir. Coube a nós dois a ação do tempo. E eu, sendo a primeira coisa que você perdeu, digo: Não te resta quase nada.

Atenciosamente, Clara.

Não houve resposta. Não houveram reticências. Foi o fim.

Magda Albuquerque