Um livro velho na estante

18:27


Estava lá, parado, num canto qualquer da casa, da rua, da vida. Imóvel, guardado, sem ser tocado. Era  um velho livro, em uma estante qualquer. Não sei o motivo, mas tirá-lo da estante era o mesmo que seguir um caminho desconhecido por um mapa desatualizado, velho. Tocar sua capa, áspera e empoeirada, poderia causar sérios danos à saúde.
Buscá-lo no meio de tantos outros livros, reler uma literatura que se perdeu em meio às circunstâncias. Por fora - a capa - mostrava sinais de um envelhecimento precoce, decorrentes de um descuido generalizado. Suas vestes não exerciam sua função mor: proteger as páginas sensíveis e o bem mais precioso do livro. Experimentava o sintomas contemporâneo da efemeridade.
Por tudo o que passou, revestiu-se de uma camada profunda de elementos conhecidos e desconhecidos de toda a massa. Clamava por proteção ao seu conteúdo, à sua forma e sua alma. Mas também pedia para ser relido; desejava ardentemente um novo olhar sobre o que trazia de conteúdo. Estava extremamente cansado de ser olhado com olhares envelhecidos e modistas.
Caído das melhores prateleiras ou estantes, vivia como um livro qualquer, num canto qualquer, como alguém que um dia brilhou e foi esquecido com o tempo.


Magda Albuquerque

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3 comentários

  1. Magda,

    Escrevi, há um bom tempo, um poema a respeito de um livro assim, esquecido na estante: http://logomaquia.blogspot.com.br/2012/01/um-livro-na-estante.html

    Amá-los é uma qualidade de poucos.

    Abraço!

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  2. Fabrício,
    veja como são as coisas: Quando terminei de escrever e reli meu texto, pensei em você, que você iria gostar de ler.
    As energias do mundo interagem, realmente.

    Beijo.

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  3. Desses livros desgastados, podem surgir as melhores histórias! :D

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