Encontrei um novo caminho, que pode ainda fazer com que outros caminhos surjam. Inevitavelmente olho pra trás e observo silenciosamente todos os caminhos que percorri para chegar até aqui. Tudo o que pude viver da melhor maneira possível, tudo que deixei de viver e talvez, ou principalmente, todas as escolhas que foram feitas para que pudesse chegar nesse novo caminho, me sentindo inteira.

Eu colori todos os cinzas que encontrei e transformei em experiência o que trouxe dor pra minha jornada, mas não só isso, eu ressignifiquei muita coisa até hoje, como eu jamais acreditei que conseguiria. E isso me fez e me faz mais forte, mais segura, mais certa do que faço e do que refaço em minha vida. Não que agora eu tenha encontrado todas as certezas do mundo (até por que se fosse assim, já não haveria mais sentido na vida), mas eu sei o que me toca, o que me aflige, o que inquieta, o que nutre, o que me afeta.

Caminhar por entre as incertezas, me permite visualizar com mais clareza os caminhos, embora muitas vezes a neblina do medo me impeça de dar alguns passos. Reconheço meu limite de temer alguns riscos pela necessidade de sentir meus pés no chão. Sou do tipo que precisa encontrar terra firme para poder navegar, e apesar de já ter me impedido muito, hoje percebo que na verdade, é uma forma de me projetar com o mínimo de segurança que eu preciso. Muitas pessoas não sentem essa necessidade de saber onde ancorar, mas essa minha forma de ser tem me permitido boas escolhas, embora nem todas sejam contínuas.

Mais um café do outro lado da rua. O mesmo atendente, as mesmas pessoas, o mesmo cheiro, aquele falatório. Esse lugar virou para mim uma segunda casa, apesar de gostar tanto dos meus silêncios. Esse barulho que encontro nesse lugar me faz sentir que tenho vida.

Em meio a tudo, também vejo você.

Como boa observadora, nessas tantas vindas aqui, observei você. Desde então me aquieto em um lugar que possa te observar e passo longos minutos entre um gole e outro de café, entre uma garfada e outro no bolo quentinho da manhã. Sempre ocupado entre jornais, tablet e celular, um semblante preocupado. Tento imaginar a bagunça que você está metido e que precisa arrumar. E nessa imaginação, fui além e criei sua história, seu trabalho, sua família, seus encontros. Simplesmente me deixei imaginar e aos poucos passei a querer sua presença ao meu lado. Que loucura! Não sei explicar exatamente o quê mas algo em você é tão familiar. 

Daqui, observando seus gestos e passos, também percebi que ninguém mais parece lhe notar. E aos poucos percebi também que ninguém me nota. Somos invisíveis. E sendo invisível, então, continuo nessa minha sina de lhe falar apenas em pensamento. Queria lhe dizer muitas coisas, e dentre elas que possa aproveitar seu café da manhã sem essa parafernália toda. Coma em paz, por favor, o trabalho não é tudo. Vez ou outra também olhe em volta, experimente receber todo 'bom dia' que tem desperdiçado simplesmente porque apesar de estar em um dos melhores lugares pra se tomar café, você está lá fora, no mundo, e não é capaz de perceber nada ao seu redor.

Em silêncio, falo todas essas coisas e resolvo ousar me levantar e ir até a sua mesa. Caminho a passos lentos, respiro mil vezes, paro e tento voltar, mas quero continuar. Me aproximo, me atrapalho em minha próprias pernas e esbarro em você, quase derrubando tudo. Você me olha e pergunta se está tudo bem, e tudo o que quero é sair correndo - o que não demora muito e tão logo faço. Você apenas observa e eu continuo indo, tentar me esconder, encontrar uma saída. Lembro que deixei minhas coisas na mesa e volto, de cabeça baixa. Dessa vez quero ser invisível, desejo qualquer desses superpoderes só pra passar, pegar minhas coisas e sair correndo. 

No banheiro, olho no espelho, lavo o rosto, respiro algumas vezes e encaro a porta. Hora de voltar. Me apoio em pingos de coragem que ainda me restam e finalmente volto. Mas ao abrir a porta encontro você, de pé, preocupado. (Conheço esse semblante, de tanto observar). Tento pedir desculpas, mas gaguejo e as palavras não saem. Acho que desaprendi tudo. Você toma a iniciativa e me pergunta se tá tudo bem. Arrisco e afirmo apenas com a cabeça que sim, está tudo bem. O coração a mil sinaliza que quero ficar, mas preciso ir. Inesperadamente você resolve me dizer que sempre me vê ali, e me chama pra tomar café. Ainda me atropelando com as palavras, deixo-me sorrir e aceno aceitando o convite.

Nesse dia, descobri que não era assim tão invisível assim, e que nos notávamos em silêncio e observávamos um ao outro diariamente, mas muito secretamente. Que ironia essa vida.

Acordo e ao olho ao meu lado. Vejo você dormindo tranquilamente. Não encontro mais aquele semblante preocupado. Sonhei com nosso primeiro encontro e parece que ele nunca deixou de acontecer, desde aquele dia. A cada novo dia ao seu lado, revivo o primeiro instante em que percebi que não há invisibilidade capaz de não permitir encontros como esse tão nosso. Em silêncio agradeço por ter você comigo e volto a dormir, entre sorrisos e suspiros, certa de que foi e é amor, desde que nos esbarramos.

Magda Albuquerque

Essa noite sonhei com você. 

Não sei bem se era ele ou ela, mas sei que senti claramente crescer em meu ventre um amor que já sinto há muito tempo.

Eu sonhei. E neste sonho me encantava com a descoberta e ao ver a barriga crescer tão bonita, marcando a minha vida, me transformando e transbordando. As lágrimas inevitavelmente rolavam em meu rosto, tão fascinado por sua chegada.

A verdade é que sei que demoraremos um tempo para a chegada desse momento, mas ao menos sonhar me transporta para mais perto de você(s) e eu sinto o amor sendo somado e multiplicado.

Foi um sonho tão bonito. Me vi tão plena. E mesmo sendo uma realização do meu inconsciente (ele se fazendo imagem) eu senti de verdade e acordei sorrindo.

Seja como e quando for, estou pronta e estarei sorrindo com o mesmo encanto que sinto desde agora, em meus sonhos, porque mora em mim a doçura de ter você(s) comigo.

Quero sentir em meu colo o que em sonho é um presságio dos mais bonitos.

Imagem via Pinterest

Sonhadora. Pensante. Pulsante. 

Sonhe. Pense. Pulse.

Planeje.

Mas saia do lugar. Arrisque.

Como boa e assumida sonhadora, tenho me deparado com dilemas em minha vida que me pedem aos gritos para que eu seja mais que apenas aquela que sonha e aspira, mas aquela que vai aonde tiver que ir, aonde, com quem e em que momento for. É bem verdade que venho conjugando o verbo arriscar há um certo tempo, mas cada dia mais, ele me pede um olhar e atitudes que o consolidem. Pede mais que planos, pede passos.

Olho para um infinito de possibilidades e tento enxergar prováveis caminhos, que façam sentido pra mim. Vejo vários, sinto medo. E se não der certo? O que vou encontrar? Me questiono, penso, repenso, refaço os planos. Ao final, sei o que exatamente meu coração quer com tanta inquietação. Quer me oferecer segurança para que eu possa arriscar. E os riscos são todos por mim e para mim. 

A felicidade é um risco. Os sonhos exigem decisões arriscadas muitas vezes. Mas se o verbo arriscar não for conjugado, afinal, a vida para, perde o sentido, tem seus motivos abrandados. E não há vida no marasmo de quando nos conformamos. Por isso decidi, e vou, arriscar!

Magda Albuquerque

Hoje, depois de quase 4 anos de formada, há praticamente o mesmo tempo exercendo minha profissão em saúde pública, percebo o quanto minha profissão é importante. E não é puxando sardinha pro meu lado, mas existe uma necessidade real. Principalmente hoje, as pessoas não tem parado para se perceberem, para sentir e identificar o que lhes inquieta, a buscar resolução através de mudanças e um olhar para dentro de si. Vivemos na era do imediatismo, e a urgência curativa ainda nos tapa os olhos. Procura-se remédios para o que não se remedia. Como remediar uma alma cansada e perdida em sua jornada? Nossas dores, em sua maioria, são mais subjetivas do que objetivas, e não percebemos o quanto nos negligenciamos todos os dias, em tudo.

Por essas observações e inquietações, escolho minha profissão todos os dias, e me coloco empaticamente para o mundo. Em toda e qualquer situação, consigo parar e observar as nuances das histórias e buscar compreender as razões do outro e sua forma de ser. Não devo olhar o outro pelo crivo daquilo que sou, mas a partir do que sou, em encontro com o outro, o que somos? Uma relação. Essa relação, essas relações, são o que me movem. Me permito ser afetada pelas histórias que chegam a mim, e dessa forma oferecer-lhes a possibilidade de falarem e serem ouvidas - primordial - e em seguida mostrá-las o poder que tem sobre suas próprias vidas. Minha função não é apontar caminhos, mas mobilizar cada pessoa de tal forma que elas possam se reencontrar.

Escolhi e escolho a psicologia, por mim, e por quem encontro pelo caminho. Essa formação me transforma, desde o início e a cada dia. Nunca é igual, e eu tenho aprendido a ser melhor e não me permitir jamais desistir, ainda que encontre milhões de impasses e situações que desestimulem. Quando se ama o que faz, faz-se com propriedade e vontade, sempre, é um clichê que faz muito sentido. Não sou a melhor, nem a pior, nem me coloco em posição de medir parâmetros. Sempre busquei dar o meu melhor em tudo, desde criança, e isso é algo muito meu. Ninguém precisa ser igual a mim, até porque seria chato pra caramba, e eu, assim como todo mundo, tenho defeitos, limitações. Eu vivo em constante reavaliação porque não posso acreditar que já está tudo bem. Ainda há muito a buscar, a fazer e a melhorar, todos os dias. A psicologia me ensinou a ouvir de verdade.

Então num dia como hoje eu agradeço a todas as oportunidades que surgiram em meu caminho, e aos acasos que descobri depois ser a sincronicidade - um conjunto de eventos aleatórios mas que estão conectados entre si e indicam um sentido. Que essa energia então, sempre me leve para onde for, e me aponte luz. Hoje sou psicóloga por insistência e por escolha diária, em oferecer às pessoas uma possibilidade de cuidado que muitas vezes não é encontrada. Precisamos do cuidado como uma parte vital, e se a vida nos negligencia essa possibilidade, então que possamos buscar espaços onde o cuidado seja essencial.

Feliz dia para todos aqueles que escolheram a Psicologia como uma forma de vida, e estão em constante transformação, por e para ela.

Magda Albuquerque

BEDA 27/31

Temendo pesadelos

Esgueirou-se em meio à solidão

E acabou só.

Tola

Esqueceu que até os pesadelos são sonhos.

Magda Albuquerque



P.S.: E aí você descobre um texto salvo no bloco de notas do celular, feito em uma madrugada qualquer, e as palavras tem força, tem vida. Por isso aqui estão.

BEDA 20/31

Parecia só um sonho. Não sei se era, ou não. Estou acordada agora? Estou confusa. 

Naquele dia, naquele sonho, nós não tínhamos mais nada a temer, nem distância entre nós. Havia apenas uma casa e nós dois, e uma vida inteira compartilhada.

Apenas um sonho, talvez. Dentre tantos sonhos, você sempre ali.

Ontem sonhei com você, e éramos apenas nós dois, em paz, a dois. Um só.

Nesse sonho meu coração sorria, por estar contigo, por sentir o amor, por estar em casa.

Meu sonho sempre será seu. E que bom sonhar, e acordar com a certeza de que nos temos.

15/31

Os anos foram se passando e eu nunca parei para lhe contar o quanto você foi desejada. Vendo suas trelas, seus passos firmes, suas descobertas, sua destreza em viver a leveza da vida, me fizeram parar e lembrar de quando você era apenas um desejo, um sonho. E que sonho!

Você, desde sonho, sempre acrescentou cor e vida ao meu mundo. Nunca estive só, na verdade, porque sempre quis você, sonhei com você, lhe dei nome e fiquei na expectativa. Quanta ansiedade!

Demoramos a estarmos juntinhas, é verdade, mas no momento em que soube que finalmente chegaria o dia, a hora, com exatidão, da sua chegada, a vida se tornou ainda mais doce. Minha vida ganhou mais vida.

Sabe, seu nome não é qualquer nome. Carrega em teu nome, o nome da minha bisavó, que com delicadeza bordou a minha vida, enquanto criança, com pequenos retalhos, e construía com empenho e carinho, a mistura de cores por onde caminharia toda a minha história. Uma mulher forte, incrivelmente firme, e delicada em seus gestos. Por essa imensidão de alegria, escolhi esse nome, para também ser seu. 

Queria poder lhe proteger de tudo, impedir que tristezas alcancem seu coração, mas eu preciso lhe deixar livre, para descobrir seu próprio caminho. Não vou poder impedir seu sofrimento, mas serei seu amparo, se você precisar. Saiba que a vida é doce, mesmo quando tudo parecer provar o contrário. Você vai ver, vai descobrir. Nunca esqueça disso! Você será forte, e mesmo quando não se sentir, sabe que serei sempre a mãe que vai lhe acolher com um abraço e aquela comida que você tanto gosta, que lhe aquecerá com um cobertor e vai acalentar suas noites tristes.

Quero estar com você, o tempo que for preciso, e lhe ajudar a seguir seu caminho, com leveza e liberdade. Minha filha, você é uma parte do meu mundo, e você sendo seu próprio mundo, vai precisar ir, em busca das suas certezas (ou não), e eu vou lhe apoiar.

Cuidarei de você, até que siga com seus passos, ainda mais firmes. Que o meu amor alcance o seu coração onde quer que estejamos. É, eu sei que ainda é cedo, mas saiba desde já que estou pronta para lhe deixar seguir, assim como sempre estive pronta para sua chegada.

Siga com seu coração. Livre.

Com amor,

Sua mãe.

Magda Albuquerque

P.S.: Sempre tive vontade de deixar algo escrito para minha filha, que ainda é apenas sonho, e hoje senti que era o momento. Guardo com carinho essas palavras. Um dia elas serão sim, lidas por Helena. E quem sabe, neste momento, alguns corações sejam contemplados com essas palavras.

- Deixe seu recado após o sinal. (Mais uma vez a bendita secretária eletrônica me afirma o que já sei há bastante tempo.)

Tudo bem. Absorvo mentalmente a ideia e arrisco:

- Eu sei que você vê o telefone tocar, e até o meu nome marcado pela chamada - uma tentativa de conversar com você -, mas optou por não mais atender minhas ligações, nem retornar, ou responder minhas mensagens, ou e-mails. E eu já desisti de todos eles há um bom tempo. Mas ainda tentei ligar, uma última vez (talvez). Não quero que pense que todo esse tempo estava esperando que voltássemos a ser o que um dia fomos - um casal. Eu só queria um adeus, um suspiro, uma troca de palavras, notícias suas. Não acho absurdo querer saber de você, que um dia foi uma parte do que chamamos de nós. Nossos laços se desfizeram, se perderam? No início, pensava apenas que deixávamos de ser casal, mas que como pessoas civilizadas e maduras, ainda seríamos, ao menos, pessoas que se falam. Mas o tempo me mostrou algo tão diferente. Você simplesmente me deixou em abstinência de você. Eu só queria ouvir a sua voz me dizer que tudo termina sempre bem, me pedindo para ter calma naqueles dias em que só você me entende. Sim, no presente. Não coloco nossa história em completo passado. Afinal, ainda estamos aqui, vivos. Não quero retomar toda a agonia do término do nosso namoro; quero saber de você, quero falar com você. Não acho minha atitude e minha vontade, incoerentes. Eu amo você, de um jeito diferente, mas amo, e tenho vontade de saber como anda sua vida, o que tem feito, se está bem. Mas entendo que talvez sua opção seja totalmente contrária à minha. Entendo, e não aceito, mas posso compreender e fazer valer sua vontade. Eu só queria mesmo, dizer que o cuidado existe, e que o tenho por você. Desculpe a insistência, e de encher seu correio de voz, mas precisava me despedir de você, mesmo que você nunca ouça o que estou falando agora. Mas aqui deixo registrada, minha despedida, e a certeza de que você continua sendo importante na minha história, e que a nossa, não se perdeu nem se perderá no tempo. Aos poucos as coisas se ressignificam, se ajeitam, se transformam. Um beijo, meu bem. E que um dia, a gente se encontre, e possa se olhar e dizer: que bom que um dia conheci você!

Pensei mil vezes, mas nunca deixei esse recado. Nunca tentei fazer com que essas palavras encontrassem o seu destinatário. Nunca permiti que minha voz alcançasse aquele correio de voz. Apenas pensei. Mas não deixei o recado. E nunca soube o que aconteceu, nem onde tudo se perdeu. Nunca fui de muitas atitudes.

Desafio Blogueiro #038

Um certo dia ouvi dizer que quem muito quer, nada tem. Mas, hoje, me pego pensando: - E se eu não cuidar dos meus quereres, o que terei? Sim, porque cada um é responsável por seu próprio processo de conquista. Se eu quero, é óbvio que terei que correr atrás para ter. Mas antes de tudo, eu preciso querer, de fato.

Venho cuidado desses meus quereres. Antes eu nem sabia ao certo o que queria, mas hoje eu sei quais são minhas maiores necessidades - os meus quereres. Por isso, cultivo cada um deles, considerando prioridades, desafios, e outras coisas. Peso, observo suas medidas, e me empenho em querer. Querer é um processo interessante, porque realmente, nem todos sabemos o que de fato queremos. Descobrir o que se quer trata-se de um ato de bravura, de honestidade e maturidade.

Acredito que a partir do momento em que me posiciono firme, lado a lado com meus quereres, agora, finalmente, estou disposta a tê-los, a querê-los. Querer é mais do que ter, e ter é mais do que querer. São termos irmãos, e precisam caminhar juntos. Para ter, é preciso querer. E o querer, sem perspectiva de ter, se esvazia.

Hoje, eu quero muito mais de alimento para minha alma. Eu quero tudo aquilo que vem me permitindo um autoconhecimento para além das expectativas. Eu quero muito mais sonhos, amores, palavras, verdades, sentimentos puros e controversos, quero me perder e me achar continuamente, quero pertencer, quero amar, quero doces amizades, quero simplicidade, quero conquistar, quero alcançar novos rumos, quero viajar, quero conhecer, quero atitude, quero ação, quero, quero, quero. E quero com toda a verdade que existe em mim.

Chegando o fim de mais um ano, e inevitavelmente é chegado o momento de refletir sobre tudo o que aconteceu durante esse período de tempo.

Percebo que foi um ano de grandes transformações, tanto pessoais quanto profissionais: primeiro emprego, muito trabalho, tentativa de conhecer e fazer reconhecer o meu trabalho, aprender muito, vivenciar inteiramente meus sentimentos, assumir posturas, tomar atitudes, etc. Enfim, muitas coisas. Mas, sobretudo, o ano que eu me dei conta de que sou senhora da minha vida, não por finalmente ter um trabalho, receber salário, sentir um gostinho de autonomia e liberdade, mas principalmente porque me permiti tudo o que a vida me ofereceu.

Esse ano eu quebrei a cara, mas quebrei com gosto. Aprendi muito com isso, e então compreendi que há realmente um tempo para cada coisa, e o que não dá certo (aos meus olhos), dá muito certo para o sentido maior que me guia - Deus. Se algo que eu queria, planejei, assumi, não deu certo, é porque ainda não chegou o tempo de ser. Tudo tem seu tempo, tem sua razão, e exige maturidade para viver. Eis o ponto chave: maturidade.

Me sinto intensamente amadurecida, não pronta, lapidada, mas amadurecida. Com a minha ousadia de vivenciar tudo intensamente e verdadeiramente, tive, finalmente, a chance de crescer com minhas próprias pernas, sendo até chata muitas vezes. Eu precisei impor meu ponto de vista para enfim sentir a liberdade com leveza. Eis outra coisa que vivi de verdade neste ano, leveza.

Resumindo, assumi riscos, sofri, chorei, sorri demais, me conheci com mais profundidade, encontrei saídas criativas, reconheci minhas maiores prioridades, dei tempo ao tempo, amei com muita verdade, encontrei meus limites, superei minhas próprias expectativas, sonhei com muitas coisas, conheci pessoas maravilhosas, planejei, e muitas coisas mais.

E para esse novo ano que se inicia, eu desejo que tudo isso se repita. Não tiro nada do ano que estou vivendo, até o finalzinho. Acrescento muitas outras doses de tudo isso. E que eu possa, assim, crescer ainda mais, como humana, como profissional, como Vivente.

Feliz ano, feliz vida.

Sonhei com você, que há anos não tenho notícias. De vez em quando lhe vejo, mas sempre tão distante. Quando comecei a lhe ver no caminho indo ao trabalho, surgiu uma vontade gigante de falar com você, saber como você está, mas nunca foi possível.

Essa noite sonhei com você: Nos reencontrávamos e enfim tínhamos coragem para assumir o que existiu um dia entre nós. Senti saudades. Acordei com uma imensa vontade de saber de você. Vasculhei as redes sociais e nada de você. Não tivemos tempo de viver uma história de verdade, com muitos momentos para contar... Mas você foi um amor de adolescente, você foi aquele homem charmoso que falava mansamente ao meu ouvido naquelas poucas vezes em que pudemos estar juntos. Você queria mais do que só palavras,  estava disposto a um relacionamento, e eu, boba, deixei isso passar.

Talvez você nem sequer lembre de mim hoje, mas eu sinto uma coisa boa ao lembrar de você, meu amor de início de adolescência. O seu jeito de olhar, de falar baixinho ficaram registrados, e deles não esqueço. Estou sentindo saudades de você. Rezo para o que o destino seja bondoso e faça com que nos encontremos em algum lugar dessa cidade, e que eu possa ao menos lhe olhar e saber de você.



Magda Albuquerque

      Casados com o tempo e com o vento, juntaram pedaços de suas vidas e colaram como em um inteiro. Peças distintas, encaixes a ajustar. Mas não havia impedimento para não viver a imperfeição. Não esperavam perfeição no que se dizia respeito aos dois. União desconcertante de pessoas que não se agradavam mutuamente. Incrivelmente, se descobriram enamorados. Dos sentimentos avessos, ousaram transformar. 

  Descortinaram o mundo de mãos dadas, sempre. E esse sempre existia acronologicamente. Sempre para eles era o essencial, e nada mais. Quem os via enfrentando o mundo tão juntos, imaginava o quão bom seria a vida assim, a dois.

      Um par, um encontro, pés descalços, descansos ao luar e uma rede para se afagar. Casamento de partículas protetoras de afeto, enlace de pessoas encantadas, uma com a outra. Confirmação de um sentir inusitado, prontos para se dar por inteiro e afogar os receios. De amor se vive sim, é possível acreditar.

Magda Albuquerque

Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho

Eles passarão.

Eu passarinho.

(Mário Quintana)

Uma infinita sede de leveza e de liberdade me trouxeram até aqui. Uma corrente gigante de sonhos tomou conta de mim e me fez ter vontade de voar. Voar em direção ao que me dá vida, ao que preenche minhas inquietações, ao que dá lugar ao meu coração. Em alguns momentos tropeções não me faltaram e ao mesmo tempo, pessoas que insistiram em atrapalhar. Mas estas, passaram. E eu? Continuei. E cheguei até aqui. Mas não vou ficar: estou de passagem! Vou voar para mais longe, até onde o vento me levar. Pois com minha leveza de ser livre, vou o mais longe que puder, sem medo de errar.

Magda Albuquerque

Só posso estar ficando louca. Acordei com a sensação de quem fez uma grande viagem. Fechei os olhos e voltei. Dormi novamente; estava sonhando.

Estava em Paris. Sim, Paris, logo ali. Como assim, Paris? É, passeava pelas ruas parisienses ao primeiro sinal do amanhecer. A névoa encantava ainda mais aquela paisagem. Passeava de mãos dadas. Oh my God, além de estar em Paris eu ainda estava acompanhada?! (Tinha que ser sonho mesmo). Quem era ele? Se eu soubesse, acham que eu estaria aqui escrevendo no blog? Na na ni na não. 

Então, passeávamos, parando para tomar um delicioso café (quem me conhece, sabe que eu não gosto nem do cheiro, mas com um amor em Paris, quem é que não toma café? hahaha), depois para comprarmos alguns cd's e livros. Ao sair da livraria, já estava anoitecendo, e resolvemos ir jantar.

Antes disso, passamos no nosso apartamento (sério que tinha que ter tudo isso?) para tomarmos banho, trocarmos de roupa e seguirmos para o restaurante. Pois bem, após tudo isso, resolvemos dar um novo passeio, e então ele me para no meio da rua, naquelas cenas dignas de filme, e me pediu em casamento lendo um trecho de um dos livros que havíamos comprado. Entre lágrimas e sorrisos eu aceitei (ainda bem, né?).

No outro dia, eu acordava no meu apartamento e logo via um bilhete em cima do criado-mudo: "Não foi sonho, bobinha. Nós vamos casar".

Ok, aí depois de tudo isso a abestalhada acorda de verdade e descobre que não está em Paris, não tem um namorado, noivo, ficante, amante, quem dirá um marido; que está no calor da morte da cidade onde mora, e é mais um tedioso dia de suas férias. Os sonhos tem que maltratar tanto assim?! Agora eu quero, todos os dias, acordar em Paris.


Magda Albuquerque