02 de maio de 2012

Era inverno.

Da janela, via a vida passar amargamente.

Chuva. Muita chuva. E o inverno que não tinha mais fim.

- 14:15

E eu ainda não conseguia tirar o pijama, muito menos sair da janela, vendo o tempo e a vida passarem. O céu desabando, o chão se escondendo em tantas águas, pessoas correndo, roupas molhadas, sapatos encharcados, crianças correndo, meninas sorrindo... E aquele bendito casal que não saía daquele café. O meu lugar, que um dia foi meu e dele, que me fez ser primavera. Agora, sou só inverno e com a chuva, me transformo: eu sou chuva, inverno e frio.

- 16:45

Aquele casal ainda transborda paixão pelos olhos, entre um café, um muffin e outras delícias. A chuva que cai lá fora parece não os preocupar, e tampouco atingir. Meu olhar cansa, os olhos querem descanso mas eu insisto em observar: E e suas mãos acariciando o rosto dela, o toque suave entre mãos, as gentilezas que nem precisam de palavras, mas logo se sente daqui, de longe, de onde eu, desesperadamente, chovo.

- 18:00 

Pontualmente, pelo décimo segundo dia, eles levantam, seguram nas mãos um do outro, se olham e saem com sorriso que não se importa se é sol ou chuva, apenas existe um para o outro. Enquanto isso, choro em desespero, sem controle, pela centésima vez no pouco tempo em que tudo mudou: de sua, passei a ser espectadora de uma história de um par, mas que não faço parte.

Lentamente me aninho em mim mesma, naquela janela que tem sido mais familiar que qualquer pessoa que faça parte da minha vida. Ver sua felicidade tem sido minha tortura necessária, dia a dia, e mergulho nessa dor que me desafia, me provoca. Sou orgulhosa, e cismei que deveria assistir, deixar doer, até que um dia o inverno passe e os cafés não sejam mais rotina, que outros caminhos sejam seguidos. 

- Perdi a noção das horas

Por enquanto, deixo sua felicidade ser tatuada em meus olhos, para que me rasgue o peito, me dilacere o coração. No fundo eu apenas queria ser primavera ao teu lado, e florir, entre aqui e ali, apenas sorrir. Como não posso assim ser, deixo chover. Quem sabe um dia a chuva há de passar!?

Um dia cinza, um caminho a seguir. A estrada parecia longa demais pra nós dois naquele momento. Um silêncio interminável se consolidava, e eu, cansada de tantas lágrimas em noites mal dormidas, arrisquei te olhar e tocar em tuas mãos. Tentei suplicar que não fosse assim tudo tão frio.

Em vão. Seguistes em silêncio profundo, intocável, olhar fixo. Era como se eu não estivesse ali.

Passado um dia nessa viagem sem fim, chegamos ao destino que tu escolhestes. Aquele lugar já não era meu há muito tempo. Me trouxe para aquele lugar de onde saí para ficar contigo e ao abrir a porta do carro, uma dor insuportável atingiu meu peito, minha mente se sobrecarregou de lembranças, e fechando os olhos deixei tudo aquilo tomar vida. Chorei mais e mais, e o pranto se instalou naquele instante. Tentei te olhar mais uma vez, te segurar, te suplicar, mas foi tudo à toa. Não consegui nem ao menos um último olhar, um último abraço, um último adeus. Era como se eu, tua companheira de 5 anos, fosse uma estranha. E me senti estranha, até para mim mesma. Já não te pertencia, e tua frieza me fizera perder o rumo.

Sem pensar, tirastes minhas malas do carro e jogando aos meus pés ainda me ofereceu umas últimas palavras: - boa sorte! Acho que vou precisar, considerando que levastes junto contigo o meu norte, meu sentido, minha visão de futuro, os meus sonhos, o meu amor. Tentei devolver mais algumas palavras, mas não consegui, e foi assim, te vendo partir que vi meu mundo preto e branco, sem rumo, sem vida, sem amor. E aquela paz que um dia conheci ao teu lado, se perdeu em alguns instantes, e até então tento encontrá-la. Em vão.

Era inverno. O frio apontava já na janela do quarto. Levantar da cama não era opção viável. Divaguei a pensar em nós, em como terminamos sós. Arrisquei ir à cozinha fazer um café para aquecer (coração é aquecível?). Enquanto esperava, olhei a sala vazia e o silêncio doeu tanto, mais do que qualquer frio lá fora. O que me incomodou foi o vazio de sua não mais presença. Na sala ainda um último porta-retratos com aquela fotografia da nossa primeira viagem juntos. A cafeteira apitou interrompendo meus pensamentos, minhas lembranças, e a lágrima que começava a cair. Café pronto, e a volta ao quarto. Sentada em frente à janela, mais vazio, mais frio. Tudo o que era antes um gostoso hábito se tornava torturante, porque não existia mais você ali comigo para que tudo fizesse sentido. Esse lugar era nosso, e não meu. Não só meu. O frio, o vazio. E o café ficou sem açúcar. Nada tinha gosto. Nada mais. Era inverno. E nada fazia sentido. Sem você o frio era mortal.

Magda Albuquerque

Você chegou numa hora tão linda da minha vida, apesar das loucuras dos últimos tempos, a da intensidade de uma paixão vivida. Você chegou quando só há amor em meus dias, começando por mim mesma. E chegou sobretudo no momento em que quero alguém comigo, na minha vida, nos meus dias. Mas como ser pensante que sou (até demais), tenho aqui meus medos e receios de me entregar, de entrar de cabeça e ter aqueles momentos sofridos após a velha conhecida decepção. Mas quem não sofre não vive, sei que é verdade. Só que agora o que eu mais quero é amor, e me sinto inteira pra experimentar ser amada, com todos os detalhes que tenho direito. Sim, pela primeira vez na vida, me enxergo como alguém que tem direito de ser amada, assim como todas as outras coisas, e essa é uma conquista tão plena, tão importante, que não consigo nem medir, e quero dividir com você. Tenho encontrado em você o motivo para me libertar de uma vez por todas de todas os medos e frustrações passadas e me permitir. Mas não quero que isso aconteça sem o que precisamos viver: a leveza do nosso encontro, ainda que haja intensidade nos sentidos e sentimentos. Não quero estar com você ligada em outra história que não a que estamos começando a sentir e viver. Não quero que nos machuquemos. Mas quero estar com você, mais do que qualquer coisa neste momento, me importando apenas comigo, com você, e com o que sentimos e pensamos de nós dois. Quero entregar a você meu coração, e também sentir o seu, e que juntos possamos compartilhá-los e cuidarmos de ambos. Mas quero que aconteça porque queremos, porque não há motivos para estamos distantes, ainda que a geografia nos impeça o encontro dos nossos abraços. E que possamos ir com calma, pra que não reste nenhuma dúvida de que o queremos é esse nós, esse encontro, esse encurtamento da distância, essa paixão, esse sentimento, esse desejo... Esse nós dois tão carinhosamente sentido. E que naturalmente seja amor, porque aqui nesse peito nunca vai faltar. Que a calma seja nossa pressa, e nosso encontro seja depressa.

Magda Albuquerque

Sabe? Poderia lhe maldizer com mil inverdades, mas não seria coerente comigo nem tampouco com você. A verdade é que olhá-lo como um ex, como alguém que passou por minha vida e de fato se foi, é algo leve, ainda que eu acreditasse que seria difícil esquecer tudo o que passei e pensei com você. Sei que nem foi tanto tempo assim, mas você sabe bem que meu coração se inquietou com sua presença e minha alma se destrambelhou inteira para encaixar teu jeito junto ao meu. O fato é que vê-lo como um ex é de um encanto, de uma leveza e pureza tão grandes pra minha vida que eu preciso lhe dizer certas palavras (ou nem tão certas assim).

Em primeiro lugar, não tenho como descrever cada experiência ao seu lado, cada conversa que tivemos e o quanto o seu mundo me ajudou a ampliar o meu, a olhar para a  vida de uma forma muito distinta da que estava habituada, acomodada. Você me tirou do sofá, me puxou pra fora de casa e me fez sentir o sol tocar minha pele e irradiar meus dias. Você me despertou! Não tenho palavras capazes de descrever o quão importante essa atitude transformou minha jornada em movimento.

Em segundo lugar, e ainda pensando no primeiro, nossa despedida soou leve, naturalmente, como algo que deveria ser e foi, apenas. Não houve sofrimento, remorso, nem dor. Dei o melhor de mim a você, sem de forma alguma deixar de me fortalecer e engrandecer com esse encontro; experimentei doar e receber aquilo que cabe a mim, sem esperar tanto. Aprendi. E assim, hoje, me sinto disposta a encarar desafios, a querer estar com alguém sem apegos, sem cobranças, sem definições. A vida é mais leve depois de você, meu bem.

Por último (por assim dizer), preciso lhe dizer que em meu coração você sempre terá um lugar de fundamental importância, porque não foi à toa que você passou em minha vida. Deixou sorrisos, palavras, piadas, cheiros, marcas, histórias, lembranças, desejos. Levou também um tanto de mim, mas me acrescentou tanto que não há faltas. Certamente, sinto saudades da sua presença, mas acredito que seguimos nossos caminhos, em desencontro, mas guardando um sentimento verdadeiramente especial de gratidão, de encantamento. Sua passagem em minha vida tem significado e dele não esquecerei nunca.

Que nossos corações possam voar, e em algum momento repousar em outros que nos queiram bem, e sejam capazes de nos transformar em pessoas plenas. A ideia é essa. E que possamos um dia nos reencontrarmos, pois aqui guardo um abraço apertado e umas palavras sinceras de  carinho, de afeição.

Hey! Acende só mais um cigarro e me conta da tua vida. Me aperta contra teu peito e me diz palavras bobas, aquelas que não esqueci. Me segura, me dá tua mão e me leva para aquele lugar tão teu novamente. Me diz que não foi mentira, que para ti também fez sentido. Cada beijo tatuado em minha boca me conta histórias de encontros cheios de vida, de encanto, de plenitude. Tua boca junto à minha me calou os pensamentos, despertaram os sentidos. Me mostra o teu canto que em mim só ficou encanto pelas descobertas de um lugar novo, com tanto a conhecer. Te carrego em memórias que não são esquecidas, porque te encontrar me trouxe de volta a vontade de me descobrir cada vez mais. Te ter me despertou para o que há de mais silencioso em mim. Queria te dizer que nossos encontros e tudo o que foi experimentado me deixaram saudades, mas uma certeza gigante de que valeu a pena demais. Daí, acenda mais um cigarro e trilhe teu caminho. Daqui, experimento café e descubro entre letras e cores, meus próprios sentidos.

Estou com saudade do teu beijo. Beijo quente, ardente, consistente. Teu beijo não é só uma questão de boca na boca, mas de corpo no corpo. Tu beijas com o corpo inteiro. Tuas mãos, sabiamente encontrando o encaixe em meu corpo, me apertando para junto a ti, marcando minha pele da tua força. Me encostando na parede, no colchão, no vento, sempre a precisão de ser capaz de me embriagar, provocar arrepios, me fazer tremer dos pés à cabeça. Teu beijo é mais que uma parte, é o início de tudo, e nele me perco facilmente, me deixo entregar sem pensar em nada. Teu beijo é meu inferno e também meu céu, me traz paz e me deixa em chamas em questão de segundos. Quero teu beijo tatuando meu corpo todo, mas mais que tudo, quero que me tome a boca e explore cada espaço, desse teu jeito, apenas teu. Me provoca, me segura, me encosta, me beija, me faz inteira e me desmancha em ti, aqui, agora, e não espera mais nada. Esperar pra quê? Há sede de ti e do teu beijo, e a vida é agora. Vem, não demora. 

Sempre aqui,

Carol.

Memórias de nós, de você eu, juntos. Guardo no peito o coração pleno de sentimentos vividos e revividos em cada encontro com você. Aqui, tenho no peito, um relicário. Sabe aquelas fotografias de quando você não esperava? Carrego-as comigo, para iluminar meus dias com teu sorriso bobo, despretensioso. O inesperado de nós dois, o amor que nos alimenta e nos faz querer que exista um par, no meio de tanta gente. Eu escolho você, você me escolhe, e damos um passo ou outro, sempre juntos. 

Meus sentidos aguçados pelos teus, carregam histórias de cada abraço, cada aconchego. Seu corpo no meu, infinito. Sua história na minha, encontro. Seu coração no meu, amor. É, carrego comigo um gosto de querer sempre mais, um pouco mais de você. E não tenho vergonha de assumir; assumo e escancaro: sou apaixonada por você, nas certezas e incertezas, nas palavras e silêncios, presenças e ausências. Amor não precisa de lógica, apenas é, e pronto.

Carrego no peito esse relicário, esse sentimento, essa sensação, esse querer... E por onde for levarei comigo a certeza de que tenho um pouco do seu sorriso comigo, do seu olhar, e vou me apaixonar sempre, um pouco mais a cada dia que passar. E mesmo que nossos caminhos não se cruzem mais, ainda assim vale a pena cada despertar e palpitar do meu coração, porque você mexe comigo, e me trouxe de volta à vida.

Falta...

Desapego: o que pensar sobre ele? Quanto poder essa palavra tem. E, pois é, estou me desapegando, seja o sentido que for, o peso que tiver.

Desapegar é difícil, forte, machuca e por trás dele há uma decisão. É, estou me sentindo tão mais desapegada, mais segura de mim mesma.

Sinto falta, falta mesmo, mas percebo que hoje é uma falta de forma diferente (eu acho). Talvez falta o que me proporcionava, do que ele era e foi pra mim. Tudo por que eu decidi; decidi não querer mais, decidi não gostar, não desejar, não querer de volta.
Mas,  decisão é algo muito difícil; decidir é sempre difícil. Machuca, causa sofrimento e paralisa. Pois é, decidi, e seguir só foi a melhor saída.

Ela está feliz, sorri descontroladamente, pelos cantos da boca e dos olhos, a todo instante. Tem espalhado uma vontade de viver gigantesca, e uma sede de liberdade ainda maior. Mas há uma leveza nessa sede, sem cobranças ou pesos; simplesmente tem sentido a liberdade vir de dentro do seu coração. A vida tem se encaixado nos dias de uma forma tão leve, mas tão leve, que a todo instante tem vontade de gritar que está feliz, e dançar, inventar passinhos sem sentido algum, em qualquer lugar, a qualquer hora. Isso só pode ser felicidade, só pode ser amor (por si, pela vida, pelas pessoas, pelo trabalho, pelas escolhas). O mundo pode virar de pernas pro ar, mas ela está inteira, muito viva, cheia de energia pra aproveitar cada instante. Ê, menina, que felicidade é essa? Até eu me contentei com teu sorriso. Me empresta um passo teu, e vamos por aí, livres e com esse sorriso de ofuscar outdoor. Não tem quê nem por quê, vem dançar e sorrir. Come on! Because i'm happy. 

Magda Albuquerque

Juntei os mais de mil pedaços do meu coração, espalhados por quem me magoou inteiramente. Juntei tudinho, caco por caco, pedacinho por pedacinho, e colei, aos poucos. Usei uma cola especial pra não quebrar nunca mais. Sabe aquelas colas que colam-tudo-e-mais-um-pouco? Pronto, foi essa que usei, pra não correr mais riscos. Fui aproveitando pra colar uns achados novos do caminhar, e juntei a ele só pra ter certeza de que nunca-mais-ninguém-iria-mexer-com-meu-coração. 

Mas a vida não é bem assim, meu bem. Em um determinado trecho do caminho um certo alguém é encontrado e ai, ai, ai, não tem como não emprestar o coração. Digo emprestar porque é algo que a gente nunca deve dar, de fato; a gente empresta, e cuida junto. E encontrar um certo alguém pelo caminho é esquecer de muito do que jurou para si mesma. Sentimentos dão gritinhos e sussurros, e pedem: - Vai, o que custa emprestar esse coração? Só um pouquinho. E de tanto insistirem você não aguenta, e pronto, oferece espaço por entre as arestas repletas de cola-tudo; vai abrindo um cantinho por entre as dores passadas e abstraídas.

Nesse espaço, esse alguém se encaixa tão perfeitamente que você se surpreende. Será que ele foi, então, feito para colar tudo aquilo que um dia se partiu? Parece que era só o que faltava pro coração ser inteiro de novo. Inevitavelmente, você começa a espalhar por aí sorrisos bobos de quem certamente começa a pensar que não tem problema nenhum fazer pequenos empréstimos diários de seu coração pra alguém assim, capaz de se encaixar em sua história.

E então você assume os riscos e vai entrando de cabeça nessa nova versão de um enredo já visto e revisto, porque acredita no encaixe. Já sabe que o estrago vai ser grande, não é? Não tem como prever ou medir, e o sentimento é maior que tudo. Você já não se importa, e entrega pedacinho por pedacinho, e oferece junto com os mais de mil pedaços colados reforçadamente: - Tudo bem, toma aqui (meu coração), mas só peço que possamos cuidar dele juntos. Perdi a cola-que-cola-tudo-até-coração-partido e confio que você possa fazer um trabalho melhor que o dela. Vem, se aconchega nesse canto tão seu, e vamos, fazendo dos pedaços um inteiro.

Magda Albuquerque

Quando a gente se despede, e volto para esse lugar tão só meu, sinto teu cheiro vivo em mim. Não um perfume, essência, dessas fabricadas por aí, mas um cheiro teu, da tua pele, do encostar da tua pele na minha. Gosto do teu cheiro combinando com o meu. E quando não estamos mais juntos, ele fica aqui em mim, impregnado, me lembrando de que foi verdade, que estávamos juntos, e tua pele se confundia com a minha em um jogo de desejo e descoberta de nós. Meu bem, guardo teu cheiro aqui, em mim, para ter saudade, e para que continues sempre aqui. Desejo teu cheiro, meu néctar, minha kriptonita, meu elixir, meu alucinógeno... Teu cheiro desperta em mim o que eu nem sabia ser capaz de desejar. Teu cheiro é desejo, puro e claro, mas cheio de mistérios a serem descobertos. Nesse labirinto quero me perder e me achar, desde que sempre ao final possa te encontrar, te abraçar, te beijar, e me impregnar ainda mais desse cheiro tão teu, que agora quero que seja também tão meu. Cheiro.

 

Ei, menina, levanta essa cabeça. O que aconteceu?

- Ele foi embora sem deixar nem mesmo uma carta. - respondeu ela em meio a copiosos soluços.

- E o que você pretende fazer com toda essa bagunça? - perguntei firmemente.

- Não sei. Quero sumir. Procurei algum sinal, alguma despedida, em todos os lugares, mas não achei nada. Nem mesmo uma palavra escrita num papel qualquer. O que eu fiz, pra ele me deixar assim? - e ela falava com um ar de culpa muito maior do que seus ombros poderiam suportar.

- Já pensou que você simplesmente pode não ter feito nada e a culpa neste momento ser toda dele? Que ele foi um sacana? Mas olha, ele foi embora. E você está aqui, tão viva.

 - Não, não estou viva. Ele é minha vida. Não tenho mais pra quê estar aqui. Não dá pra viver sem ele, simplesmente não dá! Não, não, não dá! - repetia desesperadamente.

Segurei suas mãos, enxuguei suas lágrimas e a puxei até o espelho onde pedi que olhasse, ainda em meio a lágrimas.

- Olhe, olhe isso que eu estou vendo. Você é linda, tão linda, tão bela, de um sorriso tão puro e desconcertado sempre (mesmo escondido agora), e sempre teve tanta vontade de descobrir o mundo. Olhe bem pra você! Sua vida é você, e não ele, nem ninguém. Não deixe ninguém ser maior do que você em sua própria vida, sua casa, seu quarto... Seu mundo! Já faz tanto tempo que ele se foi e você ainda aqui, perdendo tanto.

- Mas eu... - tentou me interromper, tentou justificar algo, talvez.

- Hoje você precisa decidir o que fazer de sua vida, de você. Já é hora, menina. Deixe o mundo ver você, e vá descobri-lo com esses olhos tão curiosos de tudo. Já é hora! - falei, quase que em súplica.

- E se ele voltar? - ainda perguntava.

- Deixe estar. Se ele voltar não existe. Você não pode deixar sua vida depender de um 'se'. Viva! E se ele voltar um dia, vai lhe ver aqui, firme, aproveitando aquilo que ele não lhe permitiu enxergar durante anos. Muita coisa boa lhe espera! Vamos, levante a cabeça e vamos sair daqui agora. - segurei suas mãos e fui lhe puxando corredor adentro em direção à porta.

Ao chegar no jardim do condomínio, ela ainda desnorteada, tentava se adaptar à luz do sol que brilhava especialmente ali, naquele momento. Olhamos para o céu, juntas. Vi uma lágrima escorrer em sua face; uma única lágrima. E ela as enxugou suspirando leve e lentamente.

- Há tempos não vejo o sol, e não foi só porque estava trancada durante meses depois que ele foi embora. Esse brilho todo, eu nunca mais tinha visto. Será que ainda dá tempo de recuperar minha vida? - ela falava, cheia de dúvidas.

- Ah, menina, deixe estar, já lhe disse. Vamos, há sempre tempo. Deixa o que passou pra trás e dê um, dois, três... Mil passos à frente. Vamos!

Ela sorriu e aceitou voltar ao que lhe pertencia. Talvez ali, naquele momento, ela tenha decidido ser maior do que tudo em sua vida, de fato. Lembro desse dia, e vejo que ali ela renascera, e hoje... Ah, hoje ela vive, sorri, dança, rodopia levemente. Ele? Nunca mais vimos. Acho que se perdeu em uma esquina qualquer.

Magda Albuquerque

Sempre existem mil motivos que carregamos para nos arrependermos. Alguns dizem que preferem se arrepender do que fizeram do que daquilo que não fizeram, mas mesmo assim há sempre um arrependimento; existe sempre algo que não foi dito ou feito. Eu, por exemplo, carrego uma mala de arrependimentos, mas muitos são leves e deixo-os partir de tempos em tempos, mas outros permanecem aqui, martelando esse coração muitas vezes cansado.

Desses arrependimentos dolorosos, tenho um que me machuca. Não diria que sofro, mas de alguma forma me inquieta o fato de que nunca te pedi pra ficar. Parece ser algo simples, como ir à esquina comprar pão, mas quando a gente ama, e precisa por algum motivo se despedir da pessoa amada, é muito difícil dizer qualquer coisa. Um até logo parece travar na garganta, a voz se vai e nada é dito, nem mesmo um tchau.  

No dia em que precisamos nos despedir, meu coração me dizia: pede para que ele fique, arrisca! Mas eu não consegui dizer nada - não disse nada - e fico pensando o que pensou de mim naquele momento. Será que achou que estava tudo bem, que a sua partida era algo natural pra mim?! Penso, penso, penso, e me arrependo, porque não te disse nadinha. 

Será que uma palavra, uma frase, faria diferença? Será que te pedir pra ficar faria com que tu ficasses (ou ao menos cogitasse ficar)? Me inquieto por não ter dito nada e sinto que esse pedido ainda está aqui, preso, clamando por ser expresso e meu coração me maltrata diariamente com essa dúvida. 

Continuo pensando naquele dia, em mim, em tu, em nós, em uma despedida, em uma incerteza e a todo o tempo só me vem à cabeça um pedido: fica comigo, só mais um pouco! E talvez fiques, talvez vá embora, talvez nem me escute, talvez. Mas eu precisava te pedir pra ficar, e me calei, não pedi, e tu fosses embora, até hoje!

Eu, você, nós, BRASILEIROS, hoje choramos uma derrota fatídica e inacreditável para a Alemanha no dia de ontem. 7x1 não é placar esperado numa Copa do Mundo entre duas grandes potências do futebol mundial, mas ok, aconteceu.

Ao contrário de muitos que agora só querem reclamar e ridicularizar a seleção e os caras que colocaram a cara pra bater e jogaram bola dando o máximo que podiam, estou perplexa, mas me sentindo muito mais brasileira, muito mais torcedora. 

Claro que sei que não se faz um país com futebol, mas os esportes fazem parte da realidade de muitos países e torcer pelas modalidades e os atletas faz sim parte da minha vida. Cresci assistindo futebol; meu pai é um torcedor dos bons, entendido pra caramba. Sempre gostei de assistir até os jogos internos do colégio, o campeonato regional de futsal, e lá estava eu torcendo, gritando, dando força aos meus amigos que ali estavam. E hoje me sinto como naqueles tempos, torcendo pelos meus amigos e me entristecendo junto com eles. Me sinto muito empática pelo choro e desculpas do lindo David Luiz, um cara que veio mostrando muito o que é futebol, o que é competição (a cena com James Rodriguez não sai da minha cabeça), e chega neste momento com tanta humildade, com tanto coração, que sinto com ele a dor dessa derrota.

E não me venha com discurso de que a gente chora e os jogadores estão ricos, e a CBF isso, e blá blá blá. Pra mim, isso não vale nada, porque eu tô falando de futebol, de jogo, de suar a camisa e tentar até os últimos minutos do segundo tempo (beijo, Oscar), e sentir essa emoção. Torcer é se emocionar, é jogar junto, é gritar, brigar e elogiar também.

Com pesar, perdemos na semifinal no Brasil, mas não é o fim. Não era pra ser?! Não foi. Vamos torcer para que os garotos dessa Copa possam ter o prazer de gritar: é Hexa! Não todos, talvez, mas o David Luiz, o Thiago Silva, o Oscar, o Bernard, o Neymar, e outros. A seleção brasileira precisa se reerguer, mas por ora a gente lamenta, e se prepara pra torcer pelo terceiro lugar.

Futebol tem dessas surpresas. Aliás, a vida é isso! Perdeu agora, ganha depois. Ou perde e ganha algo ao mesmo tempo. Simplesmente é assim!

Quanto a mim, vou torcer e gritar: - Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooooooooor! E grito mesmo! E choro com o hino cantando a capela, e me arrepio, e me emociono. Porque eu sou brasileira e sou torcedora!

E não me venham com discursos pseudo politizados, porque eu não sou 'suas nega'!

E bola pra frente porque a vida continua. A minha aqui, a dos jogadores nos seus clubes e tudo o mais. Segue! Tenho orgulho demais. É tóis, Mano!

"Ergue essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora. 

Pode acreditar que um novo dia vai raiar, sua hora vai chegar"

 

Sei que parece estranho, mas eu sou você, daqui a 10 anos. Aos 14 anos as coisas não vão ser fáceis, mas tenho algumas coisas pra lhe contar. Venho de um futuro não muito distante, pra lhe falar um tanto dessa vida que você ainda vai descobrir. Espero que não lhe assuste!

Primeiro, preciso lhe dizer que não, o mundo não vai se acabar porque sua amiga não lhe deu bola. Aos poucos você vai entender muito mais sobre o que de fato é uma amizade, e mais ainda, vai se frustrar pra caramba. Você vai chorar, se descabelar, sofrer, mas vai acabar entendendo um pouco mais sobre essa história de "para sempre"; essa expressão é a mais relativa do mundo. Não se preocupe que você vai perceber que algumas pessoas simplesmente não podem permanecer na sua vida, elas vão precisar apenas passar, e seguirem seus caminhos sem você. E isso é importante demais pra alguém tentar forçar a barra. Acredite em mim, você vai encontrar pessoas incríveis em sua jornada e vai aprender muito com cada uma delas.

Ainda esse ano você vai passar por muitas coisas, menina, e vão ser coisas muito intensas. Vai entender um pouco mais de amor, mesmo com pouca maturidade, e vai também perder algumas pessoas tão importantes na sua vida que vão lhe desestabilizar. Sabe aquelas duas mulheres que você tanto ama? Helena e Noemia? Pois então, elas vão morar num lugar lindo, todo azul. E você vai se arrepender de não ter estado muito mais com elas, mas aos poucos também vai entender que tudo o que você viveu com elas foi de tanto amor que não há como estragar tanta memória linda com remorsos. O amor vivido é muito mais importante que os "e se...". Você vai, ao longo dos anos, saber de verdade o que é essa tal de saudade. 

Sabe esse medo de não ser querida, de não corresponder às pessoas? Tente levar isso com mais leveza, porque não adianta se preocupar; você precisa dar o melhor de si, sempre, e isso será o suficiente para que as pessoas estejam com você pelo que você é. Esqueça essa história de fazer tudo por todo mundo, e verá que um peso gigante vai sair de você. E por falar em peso, sabe esse medo de se pesar, de se olhar no espelho? Nossa! Como isso vai mudar. Tente, de agora, se amar muito, porque é assim que o mundo vai lhe mostrar que há um lugar muito bacana pra você.

E quanto a essa história de ser sempre a pessoa a ouvir todo mundo, dar alguns conselhos e tal... Você não imagina aonde essa história vai lhe levar. A vida vai lhe mostrar o caminho, e você vai descobrir uma profissão linda, que vai lhe dar muito orgulho de exercê-la. A psicologia vai lhe indicar muitos outros caminhos em sua história, e vai lhe ajudar a crescer tanto, mas tanto, que você nem sequer pode imaginar, nem nos seus maiores sonhos. E isso vai dar um sentido tão grande à sua vida, vai ser a energia para os seus dias. 

E quanto aos pesos e tragédias que você vai encarar aos 14 e outros anos, tente enxergar essas coisas com mais leveza, meu bem, que o segredo da vida é isso: ser leve! Essas pequenas situações trágicas, na verdade, vão lhe ensinar muito sobre você mesma, e lhe indicar outros caminhos. Não se apegue tanto às dores. O seu sorriso, sua gargalhada, sempre serão uma marca importante pras pessoas que irão compartilhar da vida com você, então ofereça-os com mais frequência.

Os primeiros sonhos de vida vão mudar quando você entender o que de fato é sonhar, e o sentido maior para a sua vida será viver esse Sonho maior que tudo, em cada gesto, em cada simplicidade de sua vida. E pra isso, você vai precisar se libertar de certos medos, e limites, e explorar um pouco mais das suas possibilidades. Você pode achar que não, mas você tem um mundo de possibilidades dentro de você mesma; você é muito forte. Acredite em nós!

E uma coisa muito importante, de verdade: ouse mais! Esse será sempre um desafio pra você, mas cá entre nós, você vai fazer umas escolhas sem pensar muito, e vai dar muito certo. Você vai conquistar tanta coisa boa, descobrir todo um mundo à sua volta, e inúmeras possibilidades de viver as inteirezas que você vai buscar. Você vai sempre ter essa sensação de buscar o seu coração pelo mundo... Seu coração é do mundo, é bandoleiro. Então, arrisque-se, ouse de verdade! E, acredite em mim, seu coração estará onde você estiver, e quanto mais experiências você arriscar, mais feliz você vai se sentir.

No mais, viva essa alegria, se dê mais chances, acredite mais em você. Você tem tanto a viver ainda! Aproveite mais, saia mais de casa, escreva mais, cante, dance. A gente se encontra no futuro, daqui a 10 anos e vamos poder jogar conversa fora, e você vai concordar comigo. No final da contas, mesmo que passe, cada momento tem muito a lhe dizer, então se permita mais!

Vive, menina, vive. E só.

Magda Albuquerque, você. 

Entrei nessa de escrever uma carta para mim há uns anos atrás, 
e essa experiência me trouxe tanta reflexão, e me arrancou uns 
bons sorrisos também. Façam também, eu recomendo demais! :*

E então busquei tuas mãos, encaixei nas minhas, e te segurei junto a mim. Busquei teu corpo junto ao meu, senti tua respiração, e então tu guiastes movimentos suaves, nossos, sintonizados. Inventamos uma dança, até sem música, mas aos poucos percebemos que as batidas de nossos corações eram nossa melodia perfeita. Embalados por nossos corações, dançamos, e essa dança parecia nunca ter fim. Segurei tuas mãos, segurei teu corpo, te segurei; não soltei. E acho que até hoje estamos dançando, embalados pelo compasso dos nossos acordes cardíacos. Já não sei dançar sozinho, nem tampouco buscar outros pares por aí. Tu és meu par, e contigo sou capaz de arriscar qualquer passo, porque és meu guia, meus pés, meu chão. Quero sempre comigo as tuas mãos, teu corpo, tua respiração, e sempre, sempre, o teu coração.

Magda Albuquerque

P.S.: Texto em homenagem aos (e)namorados espalhados por aí, e porque hoje é dia dos namorados, e não custa nada falar de amor, de encontro.