Ele mora em uma sensação

21:44

Parecia devorar com tamanha necessidade. Invadia minha alma com apenas um toque. Era um viciado em toque. Gostava de tocar em tudo, para considerar verdade, ou não.
Tocava em tudo quanto era coisa, só pra ter a certeza do que sentia.
Ele precisava me tocar, da cabeça aos pés, todos os dias, para ter certeza de que era sua. Não que fosse preciso de fato, mas ele precisava.
Aprimorou-se nessa arte com o decorrer dos anos e era capaz de transpassar barreiras com apenas um toque. Mãos leves, suaves, delicadas, mas precisas, fortes, másculas, quando necessário.
Um verdadeiro mestre do tato, com tamanhas artimanhas.
Contou-me um dia que a cada coisa do dia em que tocava, desenvolvia memórias e por isso era tão apaixonado por essa sensação, de ter as coisas em suas mãos. Sentia posse, medo, desejo, satisfação.
E de tanto fazer, me viciou. Viciei em ter suas mãos tocando meus cabelos, tocando meu rosto, me envolvendo em um abraço. Foi inevitável, pois assim ele se tornou um profundo conhecedor das minhas fragilidades e fortalezas. Encantei-me com sua sensação, que agora desenvolvia também uma memória tão minha e tão nossa.


Magda Albuquerque


Desafio Blogueiro #03

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2 comentários

  1. Ui!
    Primeiro texto que não falou apenas de saudade. Gostei dessa coisa da memória do tato, ficou sensível, gostoso.

    Beijo, gêmea lhênda! ♥

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  2. Gêmeaaaa, que bom que tu gostou.
    Foi barra fazer o dessa semana. Hahaha... Mas de repente veio a ideia, viajei e até que deu certo então.

    Beijo, sua lhênda!

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