Revirada ao avesso, rasguei uma página, de um livro qualquer, e rabisquei nela, minhas últimas palavras. Não, não vou morrer - não agora. Mas estou indo embora, desligando nossa conexão dolorosa. Escrevi mentalmente, rabisquei nos ares, e sutilmente delineei cada palavra, naquele papel recém partido de seu lugar. Após, sorrateiramente o dobrei e deixei em um canto, daquele lugar que chamamos de nosso, um dia. Ao lado de nossa escrivaninha, deleitei-o dentro da caixa de revistas que você comprou naquele lojinha horrenda que encontramos em nossa primeira viagem. Enxuguei as últimas lágrimas e corri para a porta, onde minhas malas já suplicavam, à minha espera. Fechei a porta, deixei a chave debaixo do tapete, onde sempre deixávamos por emergência. Não se tratando de uma, dei as costas, entrei no carro e parti. Deixei com você minhas últimas palavras, minhas últimas lágrimas e tudo o mais que havia de ficar. Levei comigo apenas amor, para (re)construir um tanto de vida, em um outro lugar. 

Magda Albuquerque